domingo, 20 de julho de 2008

Como se constrói um país sem crianças - ou o Japão de 2050 - Parte 2

Um grande fenômeno de vendas de um Natal passado no Japão, foi um simpático e curioso boneco de 30 centímetros que falava mais de 250 frases, cantava, reclamava se era deixado sozinho e dava boas-vindas quando seu dono chegava em casa. A novidade foi batizada de Primo Puel, adaptação do italiano com significado próximo a "primeiro filho". Custavam 72 dólares no Japão, com uma venda espetacular de mais de 400.000 exemplares no país.

O dado curioso do Primo Puel é que a maior parte de seus consumidores não são crianças, e sim mulheres na faixa entre 20 e 30 anos. No site oficial do boneco há inúmeras declarações de fãs que o tratam como se fosse uma criança de verdade. Outras dizem que ele é um grande amigo e algumas o consideram um namorado. As mais fanáticas chegam a afirmar que não poderiam mais viver sem sua companhia. Todo esse sucesso tem deixado em alerta as autoridades do país, que estão em plena campanha para aumentar a baixa taxa de natalidade local. Nessas condições, nada poderia ser mais inconveniente que a propaganda de um filho de brinquedo para as japonesas jovens e solteiras.
A média atual é de 1,34 nascimento por mulher, uma das menores do mundo.


US$ 10.000 por filho - Empresa japonesa oferece recompensa para que seus funcionários tenham mais bebês.
Acostumados a fabricar Tamagotchi, aquele bichinho de estimação virtual, e Power Rangers, bonequinhos intergalácticos, os funcionários da japonesa Bandai têm agora de produzir crianças.
A empresa, terceira maior fabricante de brinquedos do mundo, está oferecendo 10.000 dólares (cerca de 18.400 reais) para cada bebê gerado por seus empregados, a partir do terceiro filho.
O estímulo financeiro à procriação é compreensível no Japão.
A população do país está envelhecendo rapidamente e as conseqüências econômicas desse fenômeno podem ser desastrosas.
O governo japonês divulgou na semana passada um relatório dando números ao problema. As pessoas com mais de 65 anos já representam 16,7% da população e, segundo projeções, em 2005 o porcentual chegará a 19,6%, o maior do mundo.
Em quinze anos, um em cada quatro japoneses terá mais de 65 anos.
No Brasil apenas 6% dos habitantes estão nessa faixa etária.
Com tantos idosos, o país asiático poderá experimentar, em poucos anos, o colapso de seu sistema previdenciário.
Os poucos cidadãos com idade para trabalhar e contribuir para a previdência não seriam suficientes para sustentar os aposentados.

Imigração – Para que o sistema previdenciário japonês continue viável, poderiam ser adotadas duas medidas, segundo um estudo recente da Organização das Nações Unidas: aumentar a idade mínima de aposentadoria para 77 anos ou promover a imigração em massa. As duas soluções, na verdade, são impraticáveis. Aposentadoria aos 77 anos, quando a expectativa de vida é de 79, é fora de propósito. No que chamou de imigração de reposição, a ONU estimou que, para cumprir a meta, seriam necessários mais de 10 milhões de imigrantes por ano nos próximos cinqüenta anos.
Ao fim do período, haveria quatro vezes mais imigrantes do que japoneses no Japão.
Diante disso, o prêmio da fábrica de brinquedos faz sentido.
Elevar a taxa de natalidade é a solução.
O governo japonês também está em campanha para aumentar o número de filhos por casal.
A média de fertilidade no país é de 1,4 filho por mulher, abaixo da taxa de reposição.
Atualmente, cada casal recebe uma mesada de 50 dólares para cada um dos dois primeiros filhos até que completem 3 anos de idade. Do terceiro filho em diante, a ajuda sobe para 100 dólares. Uma nova lei vai estender o benefício até que as crianças atinjam 6 anos, mas manterá o programa acessível apenas às famílias de renda mais baixa. As autoridades japonesas se apressam em negar que o objetivo das medidas seja promover o nascimento de bebês.
Dizem que o Estado não pode interferir na vida pessoal das mulheres e influenciar a decisão de ter ou não um filho. Segundo o governo, a idéia é aliviar os custos da criação de uma criança.
No fundo, dá tudo no mesmo.

Além das dificuldades financeiras, a exigente rotina de trabalho no Japão também é um impedimento para a maternidade. Em uma sociedade na qual os homens têm pouca ou nenhuma participação nos afazeres domésticos, a opção pela gravidez é muito bem avaliada pelas mulheres. Os governantes também pensaram nisso e querem estimular creches com horários flexíveis e ajudar na redução da jornada de trabalho dos pais.
Enquanto o governo se preocupa em resolver o problema demográfico do país, a Bandai parece mais interessada em garantir seu mercado futuro.

Imagine só o prejuízo que seria fabricar brinquedos em um país sem crianças.

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